quarta-feira, 23 de julho de 2008
Understanding
Compreendo que queiras estar sozinho. A serio que compreendo. Eu que sempre odiei o tédio da solidão, que sempre me obriguei a estar rodeada de gente e de confusão como tentativa de fugir a reflexão acerca dos meus problemas, consigo finalmente perceber essa solidão. A noite, quando me deito na cama que agora me parece gigante, fico durante horas a olhar para o tecto do quarto e a pensar em tudo o que nos aconteceu.
As vezes penso que perdi tudo. Outras penso que há uma única coisa que me resta: a certeza de que vivi. Mesmo que este seja o preço que tenha que pagar pelo brilho nos olhos, o bater acelerado do coração, a paixão a queimar-me o peito que senti durante quatro meses. E isso, devo-o a ti.
Espero-te no tempo, no espaço. Mesmo que nunca voltes e que nunca sequer cá tenhas estado e tudo não tenha passado de um delírio de uma tresloucada que cedeu ao vicio de viver.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
domingo, 13 de julho de 2008
Estou a uma semana de recomeçar. Abri o msn para ver o que me restava da última vida, como os gatos que caiem sempre de patas para o chão e mesmo assim são agraciados com sete. Caio muitas vezes mas raramente me magoo mas desta vez sei que vai doer que farta porque as almofadas das patas estão já esfoladas e ando tonta de tanto álcool e festa e barulho e confusão e gente perdida e também tonta a girar em torno de mim e a pedir que me sinta firme.
Dei de caras com um contacto cinzento, perdido naquela pequena imensidão de contactos, ora desconhecidos, ora próximos, ora distantes, deles e de mim. Ele, alguém que tinha conhecido por aqui mas que se aproximou para vir de encontro à vida vivida com luzes dos néons que o fascinavam, estava novamente mergulhado na escuridão. Interroguei-me porquê. Se tinha tido cegado. Se se tinha encadeado com a intensidade da luz. Se tinha tido medo de ferir os olhos, pouco habituados aos raios de sol, e a um pouco mais de luz. Acho que apenas chegou a hora.
Os gatos grandes e bravios também precisam de colo. Demoram a ser conquistados, demoram a vir comer à mão, mas também são frágeis, também têm arranhões, também precisam de festinhas. O amor não se adia, disse um dia o poeta. Gostava que ele pensasse nisto. E pensasse que as luzes de néon também correm o risco de sobreaquecimento e que um dia podem fundir mas, ainda assim, nunca deixarão de ser o que são: luz.
Queria-lhe pedir que voltasse a transformar-se num contacto verde e contar-me o que sei ser o incontável. Para que eu percebesse como é possível, mesmo depois da desmistificação da Alegoria da Caverna, voltar a mergulhar nas trevas depois de se ter visto a luz. Também eu queria voltar a resignar-me. A verbalizar que consigo ser feliz assim. Queria o segredo.Não sei se, de facto, quero que apareça agora on line. Talvez seja, hoje e agora, pedir demais. Pedir o impossível, coisa pela qual começo já a ganhar alguma apetência. E a habituar-me, o que torna as coisas estupidamente piores.Hoje e agora, parece-me que os problemas que tenho são problemas inventados por mim, que são poeira aos olhos dos Deuses e da maquinaria pesada que governa o Universo e as leis, reais, que são superiores a tudo e mais alguma coisa.
Sorver a luz em exclusivo e sentir-me infeliz. Os outros a tentarem adivinhar o calor da luz na pele, eu a tentar explicar por palavras o melhor que posso, os outros até fazerem um esforço para imaginarem mas, no fim, restar apenas a frustração de não ter conseguido partilhar com ninguém a sensação térmica e luminosa, a mesma que dispensa palavras porque apenas a partilha da vivência, por si só, torna cúmplices os sujeitos da partilha.Somos piores que todos e melhores que todos, fazemos perfeitas acrobacias no sentir. Ele foi e não se deve sentir mal com isso. Ele foi como foi, está lá, um dia virá da mesma forma eventualmente fácil, ou outra qualquer. É ele. Somos Nós. Mas nós vamos sabendo, nem que seja de desejo feito, que um dia voltaremos. Ou talvez morramos lá no fundo, nas catacumbas da escuridão, felizes pela ideia de que há luz lá fora que cega os outros, os encandeiam, lhes fere os olhos e a forma de olhar.
Não esperar a luz dele. Nem de mim. Nem de ninguém. Apagar as fantasias dessa claridade. Alguns chamam isto de resignação. Outros de crescimento. Acho que a felicidade passa por isto: pela aceitação gradual da ordem das coisas. Aspiro um dia chegar lá. Não por crença mas por falta de opções.
Para vir, precisamos de ir. Faz sentido. É uma espécie de geometria de uma alma que, embalada pelas estrelas, se atormenta lá para voltar para cá, para estar cá. Quando vamos, somos. Quando partimos, há mais que um desejo secreto de voltarmos: há uma ideia íntima do que somos.Depois dizemos adeus. Um adeus longo e continuado, ou então evitamos a todo o custo dizer adeus, porque a nossa alma esta, em boa medida, na negação do que somos ou do queremos, um dia, ser. Negamos o futuro porque sabemos que um dia voltaremos.Ele foi. Não entendo porque foi, não entendo sequer porque decidiu ir. Não quero. Acho que não quero. Se o quisesse entender, quereria negar as minhas raízes, as minhas tormentas, a minha procura incessante de dar um bocadinho mais de sentido e luz à minha existência e ao meu tempo que não sei que validade terá.No fundo, o ideal seria perceber isto do ponto de vista da tolerância para com a espécie, tolerância que um dia tentei defender num início de conversa cibernética. Nenhum de nós percebeu, nem tão pouco eu. Mas a verdade é que eu acho que nenhum de nós precisa de saber, porque já o sabe.A diferença está em que pensar nas coisas pode torná-las diferentes, mas não as faz iguais a nós próprios. Só as vezes, muito ás vezes, e que conseguimos mudar as coisas, ultrapassar a nossa ignorância e mudar. Mudar um pouco, que nos dias que correm é, de facto, mudar quase tudo.
Escrevi-lhe isto, mas a necessidade de reconhecimento tão próprio do bicho que somos levou-me a escrever-lhe em vez de escrever-me a mim. É esta necessidade de reconhecimento que me atormenta. Não o reconhecimento da fama, das luzes, dos néons que chamaram por ele nem que fosse por um pouco, o pouco tempo necessário para saber que um dia quereria voltar. Que tinha de acordar outra vez de um sono mal dormido. A janela aberta, plena de luz.
sábado, 12 de julho de 2008
Lux(úria)
Arrependeu-se, azedamente, de ter calçado os saltos agulha encarnados, os sapatos fétiche arrumados há séculos na sapateira. Doiam-lhe os pés e a aragem que se fazia sentir no terraço deixava-lhe, também, a pele arrepiada. Quem mais se poderia ter lembrado de levar sapatos agulha para o Lux, já depois de ouvir um velho e rouco Bob Dylan no passeio marítimo de Algés?
Não se conseguia concentrar em mais nada senão na maldita dor de pés. Ela era assim: um pensamento de cada vez, uma sensação prima-donna que se sobrepunha a todas as outras, um sentimento em dó-maior.
A pele arrepiada e os mamilos erectos por debaixo do vestido lilás denunciavam o frio que se fazia sentir na madrugada. "O brio vale mais que o frio"- dissera-lhe a avó anos a fio, os suficientes para ela se esquecer ocasionalmente de levar consigo um agasalho.
A vodka tónica, a quarta, ajudava-a a aquecer-se por dentro. Sabia que teria que ser a última da noite, a que fazia fronteira entre a sobriedade e o alcoól e não queria repetir a sensação absurda de uma bebedeira non-sense. O estado ébrio fazia esquecer-se de tudo: dele, dela, das impossibilidades, das condicionantes, dos obstáculos, das improbabilidades, dos desencontros, do vazio do tempo não partilhado por uma opção incompreendida até ali.
O lábio superior dormente fazia-a ter esperança que também lhe adormecessem os pés, e a maldita dor que se sobrepunha a todas as outras. A música tocava-a e ela fechava os olhos, encostada à varanda e ondulava ligeiramente o corpo, cabelos ao vento que se fazia sentir sob a lua fantástica que velava Lisboa.
Ele ali tinha estado toda a noite. A ouvir Bob Dylan que nem apreciava. A rir-se com as histórias e o humor cáustico que só ela o brindava. A oferecê-la a dois amigos que, imediatamente, mesmo sem ainda se terem apercebido, se juntariam à corte de homens que via nela um carisma quase dantesco.
Num ímpeto, arrancou-lhe o copo da mão. Tapou-lhe o corpo voluptuoso com o seu casaco. Colocou-a no dorso, gargalhando sob os protestos tipicamente femininos do "eu estou gorda". Sentiu-lhe os mamilos erectos sob os ombros, a aliviarem a tensão e a relaxarem com a proximidade do calor dos corpos. No carro cravou-lhe os famosos trocos para pagar o estacionamento. Inclinou o banco dela para trás. No rádio Bob Dylan cantava num tom mais afinado. Estacionou frente ao rio. Tirou-lhe os sapatos, Cinderela adormeceu, num misto de cafuné e colo, na mais profunda sensação de alívio, sob o céu mais aluado que Lisboa tinha assistido nos últimos tempos.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
terça-feira, 8 de julho de 2008
Recordando a liberdade
Gosto que me esperes à porta do trabalho. Gosto que me conduzas. Gosto que me peças para confiar em ti. Gosto de cantar desafinada músicas que passam na rádio do teu carro. Gosto de ler alto as tabuletas com nomes estranhos de terras. Gosto de ouvir as tuas peripécias. Gosto de me rir contigo. Gosto que me coloques a mão na perna, tires a mão para meter a mudança seguinte e voltes a acariciar-me a perna. Gosto de retribuir com festinhas no cabelo enquanto conduzes. Gosto de parar em estações de serviço. Gosto de entrelaçar a minha mão na tua em ruas desconhecidas. Gosto de comer chocolates de uma assentada só. Gosto de fazer bluff. Gosto do jeito como me dás a volta. Gosto de me armar em drama queen. Gosto de te contar as minhas histórias. Gosto da tua nuca. Gosto de fazer check-in's. Gosto de carregar a minha mala ligeira. Gosto de me rir para dentro ao ver-te carregar o teu arsenal. Gosto de abrir portas de quartos contigo. Gosto de explorar ninhos. Gosto de abrir janelas e esgueirar-me em varandas. Gosto de me esconder dentro de guarda-fatos. Gosto de arrumar o farnel no frigo-bar. Gosto de beijos novos em sítios novos. Gosto de precisar urgentemente de fazer amor contigo. Gosto de descobrir a minha lingerie. Gosto de comandar. Gosto de fazer amor. Gosto de orgasmos em simultâneo. Gosto de gemidos. Gosto de jogos de cintura. Gosto do teu revirar de olhos. Gosto que digas que eu sou demais. Gosto de espelhos. Gosto de te abraçar no fim. Gosto que permaneças dentro de mim. Gosto de te ver vestir as tuas boxers num misto de frio e pudor. . Gosto de me sentir uma business woman. Gosto do teu sinal na cara. Gosto de refeições com vinhos escolhidos por mim. Gosto de chantagem emocional. Gosto de 32, 40 €. Gosto de escolher uma sobremesa. Gosto de preencher formulários e dar votos. Gosto de empregados polivalentes, Gosto de fumar no fim da refeição. Gosto do ciuminho que sentes quando tenho que atender o telefone e dividir a minha atenção. Gosto de fazer caretas com o rosto colado aos vidros de uma janela. Gosto dos teus olhos. Gosto de praia à noite. Gosto de céus estrelados. Gosto de achar que faróis são outros faróis. Gosto de me desmanchar a rir. Gosto de me descalçar. Gosto de pegadas e de roupa espalhada. Gosto de fazer amor em sítios inóspitos. Gosto de falar das fadinhas do mar. Gosto de te desafiar. Gosto de me espreguiçar nua. Gosto do jogo do gostar. Gosto de mais beijos. Gosto de palavras cúmplices. Gosto de sentir a humidade da noite. Gosto de sacudir os pés. Gosto da tua mão esquerda. Gosto de andar de baloiço. Gosto de precisar que me dês balanço. Gosto de andar de escorrega. Gosto de te ver feliz como um miúdo pequeno. Gosto de voltar para dentro. Gosto de beber refrigerantes contigo. Gosto de fazer amor de pé com vista para o mar. Gosto de alpendres. Gosto de me equilibrar. Gosto do perigo. Gosto de varandas. Gosto do teu sabor. Gosto da frustração do não dar jeito. Gosto de chantilly. Gosto de sexo oral. Gosto de preliminares. Gosto de sexo. Gosto de segundos e terceiros rounds. Gosto de orgasmos solitários. Gosto de prazer. Gosto de me entregar. Gosto de me apaixonar. Gosto de tomar duche e secar-me nos lençóis. Gosto de adormecer a teu lado. Gosto de acordar durante a noite para ver se tu ainda lá estás. Gosto do teu peito.Gosto de acordar de manhã contigo. Gosto de telemóveis desligados. Gosto de relógios desprezados. Gosto de sexo anal. Gosto das tuas mãos a agarrarem-me. Gosto de sandes mistas e meias de leite. Gosto de ler o Correio da Manhã e rir-me a dois. Gosto de empregadas camionistas. Gosto de não me cansar de fazer amor vezes sem conta. Gosto de foder, também. Gosto de conversar contigo. Gosto de tirar fotografias. Gosto de aproveitar o tempo até ao fim. Gosto de não me importar de levar puxões de orelha. Gosto de te ver stressar mas ceder. Gosto de arrumar a tralha a correr. Gosto de ter lata e pedir desculpas pelo atraso. Gosto de deixar paraísos nossos para trás. Gosto das tuas pálpebras. Gosto de esplanadas à beira mar. Gosto de conversas de caracóis em meses sem "R". Gosto de te imaginar espião. Gosto de te ouvir falar de livros. Gosto de velocidade. Gosto de te dizer que não vai ser nada e que vai correr bem. Gosto de conhecer o teu perímetro. Gosto de saber que é possível voltar. Gosto de ti. (Gosto da confiança de se ir sem dinheiro para nowhere, com a única garantia de tu estares por perto). Gosto de nós.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
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