quarta-feira, 28 de maio de 2008

Titanic

Quando um navio de afunda, por ser duro e pesado, permanece lá no fundo. Com o passar das marés. com o esvaziar dos minutos nas horas, vão-se soltando bocados da embarcação, as partes mais leves, ou menos densas, tanto faz. Quanto mais ínfimos os bocados, quanto mais insignificantes, mais depressa emergem. E no casco que segura toda a estrutura alojam-se rémoras e musgo e algas. E a função inicial adapta-se a uma outra, mais não seja a habitação de peixes e outros animais do fundo do mar. O fundo do mar é escuro e ainda assim os navios, imponentes, permanecem. Com os corpos, tal como com as pequenas peças dos navios, sucede o contrário: bate-se no fundo e não resta mais nada senão emergir. Muita vezes, inertes e sem vida, ainda assim se permitem arrastar pelas correntes e pelas marés, pelos animais de maior porte ou pela sorte. E a sua função inicial adapta-se a outra, mais não seja a alimento de peixes e outros animais do fundo do mar. A superfície do mar tem luz e só por isso os corpos, frágeis, insistem em boiar.

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