O terraço do Lux estava como nunca o tivera visto antes. Nem demasiado abarrotado nem demasiado vazio, o suficiente para o vestido comprido estilo hippie dar nas vistas assim que ela entrou.
A pele já acusava uma pincelada de bronze e ela dançava discretamente porque não necessitava de atitudes excêntricas: mesmo quieta, mesmo parada, apenas a sorrir com o seu sorriso aberto ela conseguia reter as atenções masculinas que cirandavam por ali.
Aproximou-se um. E outro. Um terceiro. A todos distribuiu sorrisos. Chegou, até, a dançar com um deles: não o mais bonito mas o mais sensual. Não o sabia explicar: atraiam-lhe os homens naturalmente sensuais, sem músculos, nem bronze de solário, sem gel no cabelo nem ar de pintas. E dançaram colados, em silêncio, num misto de fascínio e mistério, não se chegando a tocar verdadeiramente mas em simultâneo a tocarem-se por inteiro.
Não trocaram nomes, nem números de telefone. Dele só sabia o som da voz:
"A menina dança?"- perguntara-lhe, rouco.
"Dança. Mu dança."- pigarreara ela, sempre a troçar com as palavras e as intenções.
"Então, venha daí, menina Mu"- e pegara-lhe na mão até a um canto da varanda, onde puderam dançar em silêncio naquela dança de chama de vela.
Eram quase sete da manhã quando chegou a casa. O marido dormia profundamente na cama de ambos. Ao fundo da cama, no lado em que ela se costumava deitar, jazia a camisa de noite preta de cetim, a preferida dele, como que um convite que ele pretendia simuladamente casual.
Vestiu-a e deitou-se.
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