Sentara-se no anfiteatro da universidade que não era a dela. Aliás, há uma meia dúzia de anos que deixara de estudar e a ideia de ir assistir a uma aula de Design, parecia-lhe uma lufada de ar fresco, a ela que era de uma área de estudo tão antagónica.
Assim que entrou na escola antiga e com humidade nas paredes e olhou em redor, arrependeu-se de ter acedido ao convite. Um conjunto de alunos desfraldados ainda com acne (já não existem veteranos académicos de charme?) e um bando de miúdas de jeans, ténis e fios punks, fizeram-na sentir-se absolutamente desadequada.
Esgueirou-se para o fundo da sala, perante os olhares críticos dos miúdos que comentavam o ar executivo e desfazado, quem sabe até, confundindo-a com uma professora. Apeteceu-lhe fazer um comentário mordaz em voz alta mas sucumbiu aos apelos misericordiosos da amiga que a tinha trazido.
Tirou da pasta uma "Exame" e decidiu que iria lê-la até ao fim. O professor entrou e ela nem sequer levantou os olhos para o fixar. A voz dele como pano de fundo, grave e pausada. O silêncio recalcado da boa centena de estudantes que enchiam o anfiteatro: canetas a cairem no chão, tosses ocasionais, o barulho lá ao fundo do motor do Datashow. No seu horizonte visual, apenas as páginas da "Exame" e o tempo de duas horas a passar muito rapidamente.
A aula termina sem campaínha, apenas porque alguém, talvez o professor, se tenha lembrado de olhar para o relógio ou quem sabe, talvez, tivesse em si um relógio de ponto interno. Todos se levantaram em desordem e ela deixa todos saírem sem levantar os olhos da última página.
Quando o silêncio se instala, fecha as páginas da revista, enrola-a e arruma-a, novamente na pasta de couro preto.
Levanta os olhos, ainda a tempo de fitar o professor a sair da sala, a esgueirar-se pela porta, pasta de computador na mão.
Dele lembra-se apenas da figura robusta e da nuca cheia de cabelos mesclados. Aposta, internamente, como de certeza que tem cãs brancas. Voltará, mais tarde, para se certificar.
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