sábado, 18 de outubro de 2008

A ti.

Se soubesses toda a verdade, agarrarias em mim pela mão e conduzir-me-ias pela estrada de alcatrão embriagada.
Se soubesses toda a verdade, levar-me-ias ao "Hotel da Lapa" e partilharias o jantar-voucher que te deram e que prometeste que seria comigo.
Se soubesses toda a verdade, lerias todas as mensagens subliminares que te dedico e sentir-te-ias orgulhoso de mim.
Se soubesses toda a verdade, perceberias como me conheces melhor que ninguém e como a tua intuição relativamente a mim esteve sempre certa, mas só enquanto tinhas os bolsos vazios de pedras.
Se soubesses toda a verdade, não me atribuías atitudes malvadas.
Se soubesses toda a verdade, voltarias ao restaurante com pingas de chuva comigo, só porque combinámos que haveríamos de voltar.
Se soubesses toda a verdade, verias como te protejo mais do que tudo.
Se soubesses toda a verdade, comprarias os bilhetes para as " Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos" e honrarias as tuas promessas.
Se soubesses toda a verdade, não suportarias tornar-me triste assim.
Se soubesses toda a verdade, não duvidarias um segundo sequer da verdade de todas as minhas palavras, atitudes, comportamentos.
Se soubesses toda a verdade, poderíamos pendurar o candeeiro na sala e comprar o carrinho de chá que descobri na net.
Se soubesses toda a verdade, voltarias a usar o símbolo que te ofereci.
Se soubesses toda a verdade, para o ano seria a primeira a desejar-te "Feliz Aniversário".
Se soubesses toda a verdade, estacionarias no sítio de sempre para me apanhares e fugiamos numa estrada qualquer, junto ao mar.
Se soubesses toda a verdade, pedias-me desculpa e arrependias-te pela forma cruel como me trataste.
Se soubesses toda a verdade, devolver-me-ias o Verão.
Se soubesses toda a verdade, sentir-te-ias tão aliviado.
Se soubesses toda a verdade, tinhas-me mostrado a ponte de que tanto falavas.
Se soubesses toda a verdade, não me querias provar por pirraça que consegues mergulhar na escuridão e que a alegoria da caverna é uma treta.
Se soubesses a verdade, querias deitar-me novamente no chão da sala e fazer amor comigo do jeito louco e desenfreado como só os nossos corpos testemunharam.
Se soubesses toda a verdade, perceberias que eu continuo a ser eu. E provar-me-ias que tu continuas a ser tu. E que nós, afinal, existimos mesmo.
Mas nunca saberás toda a verdade. Porque não a mereces. Porque duvidas de toda aquela que já te dei até aqui. Eu nunca te dei mais que a verdade. Não toda, mas a possível. E tu, em troca, desprezas-me. Eu fico por aqui. À espera da vida, não de ti. Que não mereces, isto, que sinto por ti.
Se não me queres, deixa-me ir. Diz-me, sem rodeios, que desapareça. Eu vou e levo comigo esta verdade. Mas não cruzes os braços se me queres longe. Manda-me desaparecer, por favor. Liberta-me.
E perdes-me. E eu perco-te. E perdemo-nos, desta feita, para sempre.
É triste. Muito triste. Deixa-me, por favor, ir embora e eu desisto.