terça-feira, 23 de dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
Desaf(r)io
O Pedro pediu. A RC faz a vontade- Bryan Adams go ahead: - És homem ou mulher? Hey little girl - Descreve-te. Here I am - O que pensam as pessoas de ti? 18 Till I Die - Como descreves o teu último relacionamento? I will be right here waiting for you - Descreve o estado actual da tua relação. Last chance - Onde estarias agora? Heaven -O que pensas a respeito do amor? Cuts like a knife - Como é a tua vida? Win some, lose some - O que pedirias se só pudesses ter um desejo? Don't drop that bomb on me - Escreve uma frase sábia. Do I have to say the words?
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Hoje temos um dos concertos da minha vida
Eu e dois dos homens da minha vida. :)
(Gotan Project no Campo Pequeno)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Final feliz
E depois o despertador não chegou a tocar e não tinha sido nenhum sonho. Decidiu ir para a cama quando percebeu que tudo não tinha passado da realidade.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
domingo, 14 de dezembro de 2008
Snooker passional
Ao longo de meses, fomos colocando nas redes, uma a uma, todas as bolas encarnadas-paixão.
Debruçamo-nos na mesa, numa dupla de adversários incautos, em poses que nos remetiam para fortes tacadas, sem nunca recorrermos ao uso de giz (nenhum de nós- achava eu-gostava de algo que escrevesse e facilmente fosse apagado).
As outras bolas de cor foram jogadas, somámos pontos. Acabou o jogo: nenhum saiu vencedor.
A bola branca lá permanece, em cima da mesa forrada a feltro verde-esperança, suspirando por um jogo de desempate final.
Amor marciano
É como a relação planeta Terra-Marte: não deixas de ser quem está mais próximo de mim mas, ainda assim, a tantos anos-luz de distância.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Na voz dos outros (IX)
"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
"Elogio ao Amor" - Miguel Esteves Cardoso in Expresso
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Na voz dos outros (VIII)
"Ouvi Dizer
Ouvi dizer que o nosso amor acabou...
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei, eu não vou vê-lo em mim: se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que vejo, tudo foi para ti uma estupida canção que so eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
Agora não vais achar nada bem que pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!!!
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã, e eu tinha tantos planos p'ra depois!
Fui eu quem virou as páginas na pressa de chegar até nós, sem tirar das palavras seu cruel sentido...
Sobre a razao estar certa, resta-me apenas uma razao: e um dia vais ser tu e um homem como tu como eu não fui um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
Sei que um dia vais dizer: E pudesses eu pagar de outra forma!!!
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
E pudesses eu pagar de outra forma!!!
A cidade está deserta e alguém escreveu o teu nome em toda a parte: nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra, repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga, ora doce...
Para nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura..."
Ornatos Violeta
domingo, 7 de dezembro de 2008
Herpes emocional (ou como passa a paixão, afinal)
É simples, passa como um herpes.
Primeiro ficas com febre, com calor, ou apanhas sol de mais. E, como por castigo desse sentir quente, o herpes aloja-se na tua alma. E faz o teu coração inchar tanto que parece que vai rebentar.
Ao princípio não te parecem bolhas, sentes apenas uma comichão leve, uma dor quase que boa. Uma impressão. Mas, depois, depois percebes é que tens a alma cheia de pus. E tentas rebentar o que afinal são bolhas e ainda assim não resulta. Tens que deixar secar. E leva tempo. O seu próprio tempo.
E há alturas em que só te consegues concentrar na crosta feia e áspera que fica, como uma capa dura a proteger-te o coração. Ainda assim inestética, feia mesmo.
Mas, um dia (pasma-te!), acordas com as células renovadas e no lugar onde estava o herpes está um novo tecido cardíaco. Diferente, renovado. Ainda assim, teu.
E mesmo que saibas que o herpes pode voltar, tens também a certeza confirmada que tens em ti essa capacidade- quase fotossintética- de regeneração.
sábado, 6 de dezembro de 2008
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Na voz dos outros (VII)
"Não sabemos o que é a vida. Sozinhos achamo-nos mais capazes. E quando nos sentimos tristes, sem testemunha, a tristeza é doce. Não precisamos fingir tanto, nem tantas vezes. Podemos gritar á vontade que ninguém nos ouve, e uma cama não deixa de ser uma cama por a encontrarmos vazia."
Pedro Paixão in "Vida de Adulto"
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Re-open
Coração remodelado e equipado com os mais modernos sentimentos e as mais tecnológicas emoções. Acabamentos de luxo. Descalce as más intenções antes de entrar. Sinta-se em casa.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Lavandaria emocional
Comprei um "corador", onde posso estender o meu coração para "corar". Coro-o para ver se lhe consigo restituir a sua verdadeira cor: vermelho encarnado ou encarnado vermelho, já não me lembro bem. É importante sentir que posso desencardir a alma, desamarecê-la.
Ao poucos, lavo o coração bem lavadinho, com sabão azul e branco, para que fique tão alvo que o possa tornar num coração domingueiro, num coração de levar à missa.
Aproveitar esta nesga de sol que me queima a pele, para pôr o coração a corar. Expô-lo á luz. Passá-lo por água, tirar todo o sabão, torcê-lo. Estendê-lo. Sem medos. Mais não seja para que core de vergonha. Que me importa? Ao menos que volte à sua vermelhidão encarnada. Vice versa, talvez.
Me
Abrir a janela mal o sol nasce e inspirar o ar fresco da manhã, numa varanda sobre o mar. Maresia a cegar-me os olhos. A manhã a romper-me na pele. Hoje estou assim.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Na voz dos outros (VI)
"Não só os sentimentos criam as palavras, também as palavras criam sentimentos. As palavras formam uma arquitectura de ferro. São a vida e quase toda a nossa vida- a razão e a essência desta barafunda. É com palavras que construímos o mundo. É com palavras que os mortos se nos impõem. É com palavras, que são apenas sons, que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzem a cólera, o instinto e o espanto. E estou só e é noite. Por trás daquela parede fica o céu infinito. Para não morrer de espanto, para poder com isto, para não ficar só e doido, é que inventei a insignificância, as palavras, a honra e o dever, a consciência e o inferno."
Húmus
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
domingo, 23 de novembro de 2008
Direito do consumidor de amor/paixão
Artigo 1º
Direito à reparação de danos
1- O amante a quem seja fornecido amor/paixão com defeito, salvo se dele tivesse sido previamente informado e esclarecido antes da celebração do sentimento surgir, pode exigir, independentemente de culpa do fornecedor do bem, a reparação da coisa, ou a sua substituição, a redução do preço ou a resolução do sentimento.
2- O amante deve denunciar o defeito no prazo de meia-vida, caso se trate de paixão, ou de uma vida, se se tratar de amor, após o seu conhecimento e dentro dos prazos de garantia previstos.
(…)
sábado, 22 de novembro de 2008
Quite normal
"Estás a voltar a ficar nor(mal)"- dizem-me. " Enganas-te, estou a ficar nor(bem). Nor(melhor), de dia para dia". E sorrio.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
A vida (2º acto)
(Re)abram as cortinas. Liguem as luzes. Direccionem o foco. The show must go on. :)
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Escalada
Desafiar a força, a resistência, o frio, a força da gravidade, as intempéries só para chegar ao cume e sentir que sou capaz. Mesmo que no caminho outra avalanche me faça recuar. Mesmo que lá em cima me falte o ar. Tenho que trepar, sem cordas nem cabos. Com a força com que te amei e que me sobra agora.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Desassoprar
Aos poucos, lentamente, começo a esvaziar-me de ti. Vais-me despreenchendo. Desenchendo. E percebo, finalmente, o tudo que posso fazer com esta divisão ampla e espaçosa que vai ficando.
domingo, 16 de novembro de 2008
Na voz dos outros (V)
"A infelicidade enquanto cão
Passear a infelicidade como se fosse um cão. Fazer-lhe festas no lombo, acariciar-lhe o focinho. Meter a infelicidade na cama e sentir o calor antigo. Oh, o conforto da infelicidade a abanar o rabo, fidelíssima; a lamber as pernas, matreira; a ganir, apalermada; a ladrar, quando cheira alguém estranho. Leva-se à rua a infelicidade e há sempre quem meta conversa:- Essa infelicidade é sua? Coitadinho, que ternura, coitadinho.E então alimenta-se a infelicidade com bocados de carne (própria) e goza-se a bestial pacificação do estar na merda."
sábado, 15 de novembro de 2008
What if...
... depois de sararem as aftas do teu céu, descobrisses que as nuvens podem ser mesmo azuis e não mero reflexo dos mares?
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Wishlist
Que a razão que me levou a partir fosse exactamente a mesma que me pudesse levar a regressar.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Closet
No tempo em que me lias, as palavras eram escolhidas com bom gosto, retiradas de cabides acolchoados a cetim, com cheiro a naftalina. Hoje, são as palavras meio despidas (deslidas?), quase vagabundas, desnudadas de ti.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
More than words
Quando, finalmente, se abre o coração e se diz tudo, não fica nada mais por dizer. That's it.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Raio X
A senhora do raio x mandou-me entrar na cabine e despir o soutien. Podia conservar a camisa vestida, mas tinha que despir o soutien. Como se ao libertar o peito, um movimento sufragista me libertasse o coração que nele habita.
- Encoste-se à estrutura bem direita e inspire fundo. Não respire.
Por uns momentos pensei que se seguiria o raio y à alma. E aí ouvi-la-ia dizer:
- Desencoste-se da estrutura e expire finalmente. Respire fundo, com alívio.
Alma solta como o raio que a partiu. Radiografia da alma na mão, pronta a ser observada por um qualquer profissional de saúde. Cardilogista procura-se.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Suspiros
A paixão é como os suspiros de açúcar: tem uma forma atraente, remete-nos para uma imagem de paladar apetitosa mas depois da primeira dentada tem mais ar que açúcar e começa a enjoar.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Pontuação (II)
Começámos pelas reticências que, depressa de mais, insisti em abolir. Introduziste-te de mansinho, a seguir a dois pontos cruciais, os suficientes para querermos escrever em texto corrido a nossa história. Vieram exclamações surpreendentes. Aconchegámo-nos entre parêntesis, como se as palavras lá fora não importassem e só o nosso discurso interior chegasse para pontuar o Mundo. Não nos chegou e quisemos saltar para fora, dar sons e ditongos às palavras sensaboronas. Desprotegemo-nos sobre o escudo de aspas. Vieram os pontos de interrogação. Eu só queria dar-te voz aqui, depois do travessão que tracei para ti. Não sabemos como, escreveu-se um ponto. Eu sei que não é final. Sinto-o. Não permitas que um corrector apague o que quer que seja. Espero-te para lá da história. No final feliz.
Parágrafo?
domingo, 26 de outubro de 2008
sábado, 25 de outubro de 2008
Costura
A paixão estava-lhe tão grande que a deixou arrastar-se pelo chão durante meses, na esperança que a calçada e as solas dos sapatos (os mesmos que a pontapeavam) a desgastassem. Até que percebeu que não lhe restava nada mais senão fazer uma bainha. E pegou em agulha e linha, enfim.
Poder
E não podes fazer, absolutamente nada, para que eu deixe de te amar: é essa a minha força sobre ti.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Ao H., pelo seu 30º aniversário
(O pacto manter-se-á sempre, sem ser preciso o sangue para selar. No matter what...)
(Para ti, porque ontem dei-te o livro e esqueci-me de te deixar o CD: a minha música )
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Premonição
Tu nunca mais voltarás a ser tu. Porque neste momento és tu sem mim. E, contudo, nunca mais voltarás a ser tu sem nunca me teres tido outrora. Mudei o teu ser. Para sempre.
Pregadeira (III)
E depois, importas-te tanto em ostentar a pregadeira que não reparas que tens a alma desfraldada.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Livro de reclamações
Temos um código publicamente privado ou intimamente público?
(Ao Francisco: com mais de quatro palavras e directamente para ti)
Na voz dos outros (III)
"E eu direi:
- Dantes, eras uma visão. Sentia uma luz acender-se na pele e eras tu. Hoje, preparo e bebo venenos para que o brilho daquilo que já não és venha ao de cima, se solte do sangue e estremeça, cintile e não se apague.
Tu:
- O medo, o grande medo que se confunde com a serenidade, devora-te. E se nos tocarmos perderemos a inocência; ou, talvez tu morras e eu ressuscite. Mas uma coisa é certa: não nos cruzaremos mais, estamos definitivamente sós. Eu, enterrado. Tu, respiras.
Eu:
- Quero morrer perto de ti, de nada me servirá morrer inocente.
Tu:
- Aqui, nesta treva, o que é que parou no tempo? As nossas vidas? A paisagem? O mar? Do qual nunca soubemos a idade...
Eu:
- Quando sentia o teu corpo contra o meu ouvia, lá fora, a fúria o mar. Era um presságio de felicidade, mesmo sabendo que só o mar de outras terras é belo.
Tu:
- Continuas a escrever demais, matas tudo com as palavras. Olha como eu te olho. Olha para mim e cala-te. Devias encher a caneta com tinta envenenada.
Eu:
- O último deserto que me resta de ti é a noite da escrita. Nela te mantenho vivo, amante morte. Já não possuo bens e não prevejo herança nenhuma. Vivo para a travessia do corpo que me sepultou na memória... o teu.
Tu:
- Aquele que se prepara para morrer tem que povoar a alma com tudo o que vai abandonar. Não chegues aqui de coração vazio. É insuportável estar morto, sem nada que nos habite. A morte não admite distracções; por isso, a maior parte das pessoas não sabe morrer, desfaz-se.
Eu:
- Não há vergonha em dizer ou escrever isto: amo-te ainda.
(...)"
(Al Berto in 'O Anjo Mudo')
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Pregadeira (II)
Mas tu ainda não percebeste, mesmo, que o coração não se usa do lado de fora do peito?
Hair
When the routine bites hard
And ambitions are low
And the resentment rides high
But emotions wont grow
And were changing our ways,
Taking different roads
Then love, love will tear us apart again
Why is the bedroom so cold
Turned away on your side?
Is my timing that flawed,
Our respect run so dry?
Yet theres still this appeal
That weve kept through our lives
Love, love will tear us apart again
Do you cry out in your sleep
All my failings expose?
Get a taste in my mouth
As desperation takes hold
Is it something so goodJ
ust cant function no more?
When love, love will tear us apart again.
"...is beyond words..."
(À M. em sinal de agradecimento).
Cruel
Ele achava que ela lhe tinha arrancado o coração. E que o passseava ao peito, espetado num alfinete, a servir de pregadeira. Ele não sabia nada de nada.
Love
Não há amores vazios. Nem maus amores. Nem tão pouco amores mal resolvidos. Muito menos amores acabados. Há amores incompletos.
sábado, 18 de outubro de 2008
A ti.
Se soubesses toda a verdade, agarrarias em mim pela mão e conduzir-me-ias pela estrada de alcatrão embriagada.
Se soubesses toda a verdade, levar-me-ias ao "Hotel da Lapa" e partilharias o jantar-voucher que te deram e que prometeste que seria comigo.
Se soubesses toda a verdade, lerias todas as mensagens subliminares que te dedico e sentir-te-ias orgulhoso de mim.
Se soubesses toda a verdade, perceberias como me conheces melhor que ninguém e como a tua intuição relativamente a mim esteve sempre certa, mas só enquanto tinhas os bolsos vazios de pedras.
Se soubesses toda a verdade, não me atribuías atitudes malvadas.
Se soubesses toda a verdade, voltarias ao restaurante com pingas de chuva comigo, só porque combinámos que haveríamos de voltar.
Se soubesses toda a verdade, verias como te protejo mais do que tudo.
Se soubesses toda a verdade, comprarias os bilhetes para as " Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos" e honrarias as tuas promessas.
Se soubesses toda a verdade, não suportarias tornar-me triste assim.
Se soubesses toda a verdade, não duvidarias um segundo sequer da verdade de todas as minhas palavras, atitudes, comportamentos.
Se soubesses toda a verdade, poderíamos pendurar o candeeiro na sala e comprar o carrinho de chá que descobri na net.
Se soubesses toda a verdade, voltarias a usar o símbolo que te ofereci.
Se soubesses toda a verdade, para o ano seria a primeira a desejar-te "Feliz Aniversário".
Se soubesses toda a verdade, estacionarias no sítio de sempre para me apanhares e fugiamos numa estrada qualquer, junto ao mar.
Se soubesses toda a verdade, pedias-me desculpa e arrependias-te pela forma cruel como me trataste.
Se soubesses toda a verdade, devolver-me-ias o Verão.
Se soubesses toda a verdade, sentir-te-ias tão aliviado.
Se soubesses toda a verdade, tinhas-me mostrado a ponte de que tanto falavas.
Se soubesses toda a verdade, não me querias provar por pirraça que consegues mergulhar na escuridão e que a alegoria da caverna é uma treta.
Se soubesses a verdade, querias deitar-me novamente no chão da sala e fazer amor comigo do jeito louco e desenfreado como só os nossos corpos testemunharam.
Se soubesses toda a verdade, perceberias que eu continuo a ser eu. E provar-me-ias que tu continuas a ser tu. E que nós, afinal, existimos mesmo.
Mas nunca saberás toda a verdade. Porque não a mereces. Porque duvidas de toda aquela que já te dei até aqui. Eu nunca te dei mais que a verdade. Não toda, mas a possível. E tu, em troca, desprezas-me. Eu fico por aqui. À espera da vida, não de ti. Que não mereces, isto, que sinto por ti.
Se não me queres, deixa-me ir. Diz-me, sem rodeios, que desapareça. Eu vou e levo comigo esta verdade. Mas não cruzes os braços se me queres longe. Manda-me desaparecer, por favor. Liberta-me.
E perdes-me. E eu perco-te. E perdemo-nos, desta feita, para sempre.
É triste. Muito triste. Deixa-me, por favor, ir embora e eu desisto.
Music Box
Ela tinha uma bailarina nos olhos. Que dançava, em movimentos sincronizados, circulares, fazendo companhia às outras meninas. As dos olhos.
Os olhos eram cor-de-mel e os movimentos da dança da bailarina eram doces. Pontas, bicos de pés, graciosos rodopios sobre o próprio corpo.
Ela precisava de movimento. Não gostava do sossego, da paz. Precisava do movimento, ainda que fosse discreto, sob a forma da dança da bailarina que morava nos seus olhos.
E a bailarina dançava e dançava sem parar. Rodopiava no ar, entre os castelos que ela construia. Ficava tonta de tanto dançar. Quase que embriagada.
Um dia, a corda da caixa de música acabou. E a bailarina parou. E os seus olhos deixaram de ser o palco da dança fugaz. Os castelos dissiparam-se. A bailarina descalçou as sapatilhas e os olhos deixaram de ser cor-de-mel e doces. Agora, são apenas os olhos dela. Vazios de ballet.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
7ete
Aproveitando a deixa do dandy mais dandy da blogosfera:
1- Eternal Flame (aqui na versão das gatinhas atómicas)
A minha primeira canção preferida. Lembra-me Verão, colónias de férias, o primeiro sarau e a descoberta das estrelinhas do mar na praia da Vagueira.
2- Everything I do, I do it's for you
A minha música preferida de todos os tempos. A música que mais ouvi na vida. O primeiro slow dançado foi ao som desta música. Ele chamava-se João.
3- November Rain
O meu primeiro beijo a sério, de língua, foi com esta música como pano de fundo. Percebo agora que as músicas não são sons, são recordações.
Cruzeiro a Marrocos no Paquete Funchal. O glamour. O luxo. As noites de élan. Queria SER sempre.
5- Purple Rain (Prince)
Conversas ao telefone portátil nos inícios de 90 (um luxo!) a conversar acerca da teoria dos mundos paralelos com o meu primeiro grande amor. Era filósofo e seis anos mais velho. Era esta, invariavelmente, a música de fundo. Também se chamava João
6- Torn
Entrada na faculdade. Dúvidas. Agitação. Movimento. Confusão. Instabilidade (sempre). A piada farsolas: a Natalie embrulha!
A mais recente: a melodia, a recordação de karaokes improvisados no carro, a letra, o videoclip com o comboio, a distância (don't you worry), New York City. Oh, what you do to me?
Passo a todos.
(Adenda- Música nº 8:"Esta miúda"- O Jorge Palma não sabe, mas esta música foi escrita inspirada em mim. Um dia, quando ele me conhecer, vai percebê-lo imediatamente.)
terça-feira, 14 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
Despojamento
Primeiro acordámos tirar todas as pedras dos bolsos. Depois, dei-te tudo o que tinha em mim. Agora que estás longe, não me resta nada. Nem tão pouco as tais pedras para te atirar de raiva. Só a fisga das palavras.
sábado, 11 de outubro de 2008
Desafio (dou-te o mote e tu dás-me a volta?)
Sentara-se no anfiteatro da universidade que não era a dela. Aliás, há uma meia dúzia de anos que deixara de estudar e a ideia de ir assistir a uma aula de Design, parecia-lhe uma lufada de ar fresco, a ela que era de uma área de estudo tão antagónica.
Assim que entrou na escola antiga e com humidade nas paredes e olhou em redor, arrependeu-se de ter acedido ao convite. Um conjunto de alunos desfraldados ainda com acne (já não existem veteranos académicos de charme?) e um bando de miúdas de jeans, ténis e fios punks, fizeram-na sentir-se absolutamente desadequada.
Esgueirou-se para o fundo da sala, perante os olhares críticos dos miúdos que comentavam o ar executivo e desfazado, quem sabe até, confundindo-a com uma professora. Apeteceu-lhe fazer um comentário mordaz em voz alta mas sucumbiu aos apelos misericordiosos da amiga que a tinha trazido.
Tirou da pasta uma "Exame" e decidiu que iria lê-la até ao fim. O professor entrou e ela nem sequer levantou os olhos para o fixar. A voz dele como pano de fundo, grave e pausada. O silêncio recalcado da boa centena de estudantes que enchiam o anfiteatro: canetas a cairem no chão, tosses ocasionais, o barulho lá ao fundo do motor do Datashow. No seu horizonte visual, apenas as páginas da "Exame" e o tempo de duas horas a passar muito rapidamente.
A aula termina sem campaínha, apenas porque alguém, talvez o professor, se tenha lembrado de olhar para o relógio ou quem sabe, talvez, tivesse em si um relógio de ponto interno. Todos se levantaram em desordem e ela deixa todos saírem sem levantar os olhos da última página.
Quando o silêncio se instala, fecha as páginas da revista, enrola-a e arruma-a, novamente na pasta de couro preto.
Levanta os olhos, ainda a tempo de fitar o professor a sair da sala, a esgueirar-se pela porta, pasta de computador na mão.
Dele lembra-se apenas da figura robusta e da nuca cheia de cabelos mesclados. Aposta, internamente, como de certeza que tem cãs brancas. Voltará, mais tarde, para se certificar.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Oração (II)
"Avé cu(s)pido, sem nenhuma graça, deixai-nos em paz, pecadores. E não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos do mal. Por favor."
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
terça-feira, 7 de outubro de 2008
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Perda
Afinal de contas isto não foi equitativo- nem no princípio nem agora. Eu dei-te tudo o que te podia dar. Tu deste-me aquilo que sabias que não podias dar. E acabaste por não me dar absolutamente nada. Eu fico na mesma. Tu não. Quem dá mais é quem (no fim) menos perde.
Circo
Se for tudo menos amadora, daquelas bem preparadas, com artistas profissionais, com vestes e brilhos verdadeiros, material de primeira qualidade, luzes e focos no sítio certo, boa acústica, logística pensada ao pormenor, pode ser, de facto, o espectáculo o mais belo do Mundo.Mas se as plumas ficarem depenadas com o tempo, faltar lantejolas nos tecidos, as maquiagens dos palhaços forem de má qualidade, a tenda de linólio estiver já gasta e com Cardinallis de imitação, consegue ser a verdadeira decadência. Digo eu, palhaça desta vida.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
E de repente
Os botões encaixam nas casas. E abotoam os sentimentos tão bem apertadinhos, que não há qualquer hipótese de escaparem, ainda que o tecido tivesse possibilidades de se rasgar.
O que até nem é o caso.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
domingo, 10 de agosto de 2008
Sickness
Estou doente. Tenho a alma e o corpo doente e tu não estás cá. Porque não podes. Porque não és capaz. Porque não queres.
Gostavas dos meus risos, das minhas piadas, da minha idiotice partilhada, dos meus beijos, do meu corpo, da forma como te agarrava pela mão esquerda e te mostrava o Mundo, te ajudava a viver.
Mas quando eu te pergunto se ainda gostas de mim, com medo e debilitada, frágil e humana, verdadeira e real, respondes que não tens espaço na tua cabeça para pensar nisso, que estás um farrapo, farto de chorar. Tu, sempre tu.
A tua resposta está dada. tenho pena, muita pena, que tu já não gostes de mim. Porque era agora que eu mais precisava desse gostar. E tudo seria diferente.
sábado, 9 de agosto de 2008
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Far Away
Já toquei na morte algumas vezes. Sei o que é estar-lhe à porta. E sei que tudo pode acabar numa idiota batida de chapa de um carro ou num aperto mais forte de uma porcaria de um músculo, cardíaco que seja. Tenho essa noção, todos os dias quando acordo. Sei que há coisas que não se pode adiar, sem que andamos cada dia mais próximos do fim do prazo de validade. Talvez, por isso, goste de viver tão intensamente e neste ritmo frenético que muitos não conseguem compreender. o meu escritor preferido dzia que "O amor não se adia". Eu acho que a vida não se adia.
Nascemos sozinhos. Morremos sozinhos. Pelo meio, aproveitemos os outros. Vivamos, experimentando as coisas boas e más. Aprendendo as lições, errando as vezes que forem precisas e as que não forem precisas mas que sejam inevitáveis. Errando porque temos que errar, porque precisamos de errar, porque queremos errar, até. Mas vivamos sem medos dos outros porque os outros estão lá no meio, apenas. Os outros ajudam, amparam, acompanham mas os outros nunca serão nós. Os outros, demasiado importantes, não são os outros. Somos nós nos outros São os outros um bocadinho em nós. Confundimo-nos Nascemos sozinhos. Morremos sozinhos. Já aqui disse.
Vou para longe este fim-de-semana. Contra a aprovação dos outros. Contra o que diria o bom senso, os bons costumes, contra o que seria certo e esperado eu fazer. Quando morrer, morro sozinha mas vou de barriguinha cheia. E o que eu já vivi, ninguém me tira. Egoísta, eu? Não, tenho apenas a noção que vivemos intimamente, interiormente e inrinsecamente sós
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Understanding
Compreendo que queiras estar sozinho. A serio que compreendo. Eu que sempre odiei o tédio da solidão, que sempre me obriguei a estar rodeada de gente e de confusão como tentativa de fugir a reflexão acerca dos meus problemas, consigo finalmente perceber essa solidão. A noite, quando me deito na cama que agora me parece gigante, fico durante horas a olhar para o tecto do quarto e a pensar em tudo o que nos aconteceu.
As vezes penso que perdi tudo. Outras penso que há uma única coisa que me resta: a certeza de que vivi. Mesmo que este seja o preço que tenha que pagar pelo brilho nos olhos, o bater acelerado do coração, a paixão a queimar-me o peito que senti durante quatro meses. E isso, devo-o a ti.
Espero-te no tempo, no espaço. Mesmo que nunca voltes e que nunca sequer cá tenhas estado e tudo não tenha passado de um delírio de uma tresloucada que cedeu ao vicio de viver.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
domingo, 13 de julho de 2008
Estou a uma semana de recomeçar. Abri o msn para ver o que me restava da última vida, como os gatos que caiem sempre de patas para o chão e mesmo assim são agraciados com sete. Caio muitas vezes mas raramente me magoo mas desta vez sei que vai doer que farta porque as almofadas das patas estão já esfoladas e ando tonta de tanto álcool e festa e barulho e confusão e gente perdida e também tonta a girar em torno de mim e a pedir que me sinta firme.
Dei de caras com um contacto cinzento, perdido naquela pequena imensidão de contactos, ora desconhecidos, ora próximos, ora distantes, deles e de mim. Ele, alguém que tinha conhecido por aqui mas que se aproximou para vir de encontro à vida vivida com luzes dos néons que o fascinavam, estava novamente mergulhado na escuridão. Interroguei-me porquê. Se tinha tido cegado. Se se tinha encadeado com a intensidade da luz. Se tinha tido medo de ferir os olhos, pouco habituados aos raios de sol, e a um pouco mais de luz. Acho que apenas chegou a hora.
Os gatos grandes e bravios também precisam de colo. Demoram a ser conquistados, demoram a vir comer à mão, mas também são frágeis, também têm arranhões, também precisam de festinhas. O amor não se adia, disse um dia o poeta. Gostava que ele pensasse nisto. E pensasse que as luzes de néon também correm o risco de sobreaquecimento e que um dia podem fundir mas, ainda assim, nunca deixarão de ser o que são: luz.
Queria-lhe pedir que voltasse a transformar-se num contacto verde e contar-me o que sei ser o incontável. Para que eu percebesse como é possível, mesmo depois da desmistificação da Alegoria da Caverna, voltar a mergulhar nas trevas depois de se ter visto a luz. Também eu queria voltar a resignar-me. A verbalizar que consigo ser feliz assim. Queria o segredo.Não sei se, de facto, quero que apareça agora on line. Talvez seja, hoje e agora, pedir demais. Pedir o impossível, coisa pela qual começo já a ganhar alguma apetência. E a habituar-me, o que torna as coisas estupidamente piores.Hoje e agora, parece-me que os problemas que tenho são problemas inventados por mim, que são poeira aos olhos dos Deuses e da maquinaria pesada que governa o Universo e as leis, reais, que são superiores a tudo e mais alguma coisa.
Sorver a luz em exclusivo e sentir-me infeliz. Os outros a tentarem adivinhar o calor da luz na pele, eu a tentar explicar por palavras o melhor que posso, os outros até fazerem um esforço para imaginarem mas, no fim, restar apenas a frustração de não ter conseguido partilhar com ninguém a sensação térmica e luminosa, a mesma que dispensa palavras porque apenas a partilha da vivência, por si só, torna cúmplices os sujeitos da partilha.Somos piores que todos e melhores que todos, fazemos perfeitas acrobacias no sentir. Ele foi e não se deve sentir mal com isso. Ele foi como foi, está lá, um dia virá da mesma forma eventualmente fácil, ou outra qualquer. É ele. Somos Nós. Mas nós vamos sabendo, nem que seja de desejo feito, que um dia voltaremos. Ou talvez morramos lá no fundo, nas catacumbas da escuridão, felizes pela ideia de que há luz lá fora que cega os outros, os encandeiam, lhes fere os olhos e a forma de olhar.
Não esperar a luz dele. Nem de mim. Nem de ninguém. Apagar as fantasias dessa claridade. Alguns chamam isto de resignação. Outros de crescimento. Acho que a felicidade passa por isto: pela aceitação gradual da ordem das coisas. Aspiro um dia chegar lá. Não por crença mas por falta de opções.
Para vir, precisamos de ir. Faz sentido. É uma espécie de geometria de uma alma que, embalada pelas estrelas, se atormenta lá para voltar para cá, para estar cá. Quando vamos, somos. Quando partimos, há mais que um desejo secreto de voltarmos: há uma ideia íntima do que somos.Depois dizemos adeus. Um adeus longo e continuado, ou então evitamos a todo o custo dizer adeus, porque a nossa alma esta, em boa medida, na negação do que somos ou do queremos, um dia, ser. Negamos o futuro porque sabemos que um dia voltaremos.Ele foi. Não entendo porque foi, não entendo sequer porque decidiu ir. Não quero. Acho que não quero. Se o quisesse entender, quereria negar as minhas raízes, as minhas tormentas, a minha procura incessante de dar um bocadinho mais de sentido e luz à minha existência e ao meu tempo que não sei que validade terá.No fundo, o ideal seria perceber isto do ponto de vista da tolerância para com a espécie, tolerância que um dia tentei defender num início de conversa cibernética. Nenhum de nós percebeu, nem tão pouco eu. Mas a verdade é que eu acho que nenhum de nós precisa de saber, porque já o sabe.A diferença está em que pensar nas coisas pode torná-las diferentes, mas não as faz iguais a nós próprios. Só as vezes, muito ás vezes, e que conseguimos mudar as coisas, ultrapassar a nossa ignorância e mudar. Mudar um pouco, que nos dias que correm é, de facto, mudar quase tudo.
Escrevi-lhe isto, mas a necessidade de reconhecimento tão próprio do bicho que somos levou-me a escrever-lhe em vez de escrever-me a mim. É esta necessidade de reconhecimento que me atormenta. Não o reconhecimento da fama, das luzes, dos néons que chamaram por ele nem que fosse por um pouco, o pouco tempo necessário para saber que um dia quereria voltar. Que tinha de acordar outra vez de um sono mal dormido. A janela aberta, plena de luz.
sábado, 12 de julho de 2008
Lux(úria)
Arrependeu-se, azedamente, de ter calçado os saltos agulha encarnados, os sapatos fétiche arrumados há séculos na sapateira. Doiam-lhe os pés e a aragem que se fazia sentir no terraço deixava-lhe, também, a pele arrepiada. Quem mais se poderia ter lembrado de levar sapatos agulha para o Lux, já depois de ouvir um velho e rouco Bob Dylan no passeio marítimo de Algés?
Não se conseguia concentrar em mais nada senão na maldita dor de pés. Ela era assim: um pensamento de cada vez, uma sensação prima-donna que se sobrepunha a todas as outras, um sentimento em dó-maior.
A pele arrepiada e os mamilos erectos por debaixo do vestido lilás denunciavam o frio que se fazia sentir na madrugada. "O brio vale mais que o frio"- dissera-lhe a avó anos a fio, os suficientes para ela se esquecer ocasionalmente de levar consigo um agasalho.
A vodka tónica, a quarta, ajudava-a a aquecer-se por dentro. Sabia que teria que ser a última da noite, a que fazia fronteira entre a sobriedade e o alcoól e não queria repetir a sensação absurda de uma bebedeira non-sense. O estado ébrio fazia esquecer-se de tudo: dele, dela, das impossibilidades, das condicionantes, dos obstáculos, das improbabilidades, dos desencontros, do vazio do tempo não partilhado por uma opção incompreendida até ali.
O lábio superior dormente fazia-a ter esperança que também lhe adormecessem os pés, e a maldita dor que se sobrepunha a todas as outras. A música tocava-a e ela fechava os olhos, encostada à varanda e ondulava ligeiramente o corpo, cabelos ao vento que se fazia sentir sob a lua fantástica que velava Lisboa.
Ele ali tinha estado toda a noite. A ouvir Bob Dylan que nem apreciava. A rir-se com as histórias e o humor cáustico que só ela o brindava. A oferecê-la a dois amigos que, imediatamente, mesmo sem ainda se terem apercebido, se juntariam à corte de homens que via nela um carisma quase dantesco.
Num ímpeto, arrancou-lhe o copo da mão. Tapou-lhe o corpo voluptuoso com o seu casaco. Colocou-a no dorso, gargalhando sob os protestos tipicamente femininos do "eu estou gorda". Sentiu-lhe os mamilos erectos sob os ombros, a aliviarem a tensão e a relaxarem com a proximidade do calor dos corpos. No carro cravou-lhe os famosos trocos para pagar o estacionamento. Inclinou o banco dela para trás. No rádio Bob Dylan cantava num tom mais afinado. Estacionou frente ao rio. Tirou-lhe os sapatos, Cinderela adormeceu, num misto de cafuné e colo, na mais profunda sensação de alívio, sob o céu mais aluado que Lisboa tinha assistido nos últimos tempos.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
terça-feira, 8 de julho de 2008
Recordando a liberdade
Gosto que me esperes à porta do trabalho. Gosto que me conduzas. Gosto que me peças para confiar em ti. Gosto de cantar desafinada músicas que passam na rádio do teu carro. Gosto de ler alto as tabuletas com nomes estranhos de terras. Gosto de ouvir as tuas peripécias. Gosto de me rir contigo. Gosto que me coloques a mão na perna, tires a mão para meter a mudança seguinte e voltes a acariciar-me a perna. Gosto de retribuir com festinhas no cabelo enquanto conduzes. Gosto de parar em estações de serviço. Gosto de entrelaçar a minha mão na tua em ruas desconhecidas. Gosto de comer chocolates de uma assentada só. Gosto de fazer bluff. Gosto do jeito como me dás a volta. Gosto de me armar em drama queen. Gosto de te contar as minhas histórias. Gosto da tua nuca. Gosto de fazer check-in's. Gosto de carregar a minha mala ligeira. Gosto de me rir para dentro ao ver-te carregar o teu arsenal. Gosto de abrir portas de quartos contigo. Gosto de explorar ninhos. Gosto de abrir janelas e esgueirar-me em varandas. Gosto de me esconder dentro de guarda-fatos. Gosto de arrumar o farnel no frigo-bar. Gosto de beijos novos em sítios novos. Gosto de precisar urgentemente de fazer amor contigo. Gosto de descobrir a minha lingerie. Gosto de comandar. Gosto de fazer amor. Gosto de orgasmos em simultâneo. Gosto de gemidos. Gosto de jogos de cintura. Gosto do teu revirar de olhos. Gosto que digas que eu sou demais. Gosto de espelhos. Gosto de te abraçar no fim. Gosto que permaneças dentro de mim. Gosto de te ver vestir as tuas boxers num misto de frio e pudor. . Gosto de me sentir uma business woman. Gosto do teu sinal na cara. Gosto de refeições com vinhos escolhidos por mim. Gosto de chantagem emocional. Gosto de 32, 40 €. Gosto de escolher uma sobremesa. Gosto de preencher formulários e dar votos. Gosto de empregados polivalentes, Gosto de fumar no fim da refeição. Gosto do ciuminho que sentes quando tenho que atender o telefone e dividir a minha atenção. Gosto de fazer caretas com o rosto colado aos vidros de uma janela. Gosto dos teus olhos. Gosto de praia à noite. Gosto de céus estrelados. Gosto de achar que faróis são outros faróis. Gosto de me desmanchar a rir. Gosto de me descalçar. Gosto de pegadas e de roupa espalhada. Gosto de fazer amor em sítios inóspitos. Gosto de falar das fadinhas do mar. Gosto de te desafiar. Gosto de me espreguiçar nua. Gosto do jogo do gostar. Gosto de mais beijos. Gosto de palavras cúmplices. Gosto de sentir a humidade da noite. Gosto de sacudir os pés. Gosto da tua mão esquerda. Gosto de andar de baloiço. Gosto de precisar que me dês balanço. Gosto de andar de escorrega. Gosto de te ver feliz como um miúdo pequeno. Gosto de voltar para dentro. Gosto de beber refrigerantes contigo. Gosto de fazer amor de pé com vista para o mar. Gosto de alpendres. Gosto de me equilibrar. Gosto do perigo. Gosto de varandas. Gosto do teu sabor. Gosto da frustração do não dar jeito. Gosto de chantilly. Gosto de sexo oral. Gosto de preliminares. Gosto de sexo. Gosto de segundos e terceiros rounds. Gosto de orgasmos solitários. Gosto de prazer. Gosto de me entregar. Gosto de me apaixonar. Gosto de tomar duche e secar-me nos lençóis. Gosto de adormecer a teu lado. Gosto de acordar durante a noite para ver se tu ainda lá estás. Gosto do teu peito.Gosto de acordar de manhã contigo. Gosto de telemóveis desligados. Gosto de relógios desprezados. Gosto de sexo anal. Gosto das tuas mãos a agarrarem-me. Gosto de sandes mistas e meias de leite. Gosto de ler o Correio da Manhã e rir-me a dois. Gosto de empregadas camionistas. Gosto de não me cansar de fazer amor vezes sem conta. Gosto de foder, também. Gosto de conversar contigo. Gosto de tirar fotografias. Gosto de aproveitar o tempo até ao fim. Gosto de não me importar de levar puxões de orelha. Gosto de te ver stressar mas ceder. Gosto de arrumar a tralha a correr. Gosto de ter lata e pedir desculpas pelo atraso. Gosto de deixar paraísos nossos para trás. Gosto das tuas pálpebras. Gosto de esplanadas à beira mar. Gosto de conversas de caracóis em meses sem "R". Gosto de te imaginar espião. Gosto de te ouvir falar de livros. Gosto de velocidade. Gosto de te dizer que não vai ser nada e que vai correr bem. Gosto de conhecer o teu perímetro. Gosto de saber que é possível voltar. Gosto de ti. (Gosto da confiança de se ir sem dinheiro para nowhere, com a única garantia de tu estares por perto). Gosto de nós.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
terça-feira, 1 de julho de 2008
sábado, 28 de junho de 2008
Fica
Procuro-te para exigir que exijas de ti. Que exijas uma reflexão superficial- porque pensar a fundo dói - e eu não quero que te magoes. Que exijas para ti o melhor e se o melhor, hoje e agora, for eu (caramba): então quer-me para ti. E se não o for, diz-me que não, sempre consciente nos efeitos que o modo como me dirás, podem mudar tudo.
Isto continuará a ter valor por aquilo que é. Por estes momentos que pairam isolados numa atmosfera abstracta e que, ao poisarem no chão do tempo repetido, no espaço dos dias continuados, se tornam assustadoramente concretos. Preserva-a, também, se a consideras importante.
Não te confrontes comigo nem me pressiones. Não me confundas nem me ponhas insegura. Não me digas que não queres quando sinto que queres. Foge, se quiseres, mas não me mintas nunca. E se tens medo de querer, amigo: compra um cão.
Porque isto que existe persistirá, na mesma, mesmo que só durasse há um segundo, o tempo de cair a última folha de um malmequer numa manhã fresca de início chuvoso de um Verão.Tenderá a persistir: em mim: em ti. Concretizado ou não concretizado como algo terrivelmente bom e inesquecível. Mesmo que uma noite se desliguem as luzes, quando o medo que trava e o receio que bloqueia ( finalmente) for tão intenso que ficará tudo tão sereno, tão plácido, tão silêncio e só restemos nós e o um écran apagado e escuro à frente dos nossos olhos que já foram os olhos do outro.
Eu também tenho medo. Muito. Mas não gosto de cães- sempre preferi os gatos. Eu também sou inconsciente e louca, destravada. Eu também me questiono. Eu também sinto a força gravítica a puxar-me para o centro da terra quando as minhas asas anseiam por voar. Mas eu, eu não me importo de correr os riscos; de pisá-los (não de forma leviana); não com qualquer um: contigo. Porque tu, já te disse, és especial na tua singularidade. Único (acho que é assim que se costuma dizer).
terça-feira, 24 de junho de 2008
Teorema de Pitágoras
Preciso de palavras tanto quanto preciso de acções. Preciso que me digas que me queres, que me agarres pelo braço, que não me deixes desistir. Sabes que a energia que tenho para virar as costas e desatar a correr na direcção oposta à tua é a mesma com que lutei por um lugar para nós, secreto ou não, a mesma com que sempre corri ao teu encontro.
Energia: força cinética.
Sabes que acredito nas leis da física tanto quanto na poesia de um dia de liberdade roubado aos compromissos, aos relógios, aos outros lá fora. Será que a liberdade roubada é, ainda assim, liberdade?
Preciso que me digas que embora não saibas em que tempo, que acreditas com força que vamos chegar lá e depois sentirmos que valeu a pena, quando finalmente podermos respirar sem medo de fazer barulho e acordar os compromissos, os relógios e os outros lá fora.
Mais que acreditas, preciso que me digas que sentes que vai acontecer, à força de tanto queres. De tanto me quereres.
Com a mesma certeza com que sabes que o quadrado da hipotenusa nunca deixará de ser igual à soma dos quadrados dos catetos.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
terça-feira, 17 de junho de 2008
Forca (com ou sem cedilha, tanto faz)
Não consigo biforcar o meu coração. Em alternativa, prefiro-o enforcar. Tirar-lhe o ar e o sol que lhe alimenta os batimentos, completamente tontos de tanto cetrifugar. Como se uma varinha mágica os moesse e triturasse, até ficar um líquido denso e homogéneo, tão misturado que nada ali se consegue identificar. Mas não é uma varinha mágica dos contos das fadas. É uma varinha mágica mesmo, electrodoméstico banal.Não consigo biforcar o meu coração. Já to quis oferecer para lhe tirares a máscara de oxigénio e dares-lhe o fôlego que ele precisa. Respiração boca a boca, como só tu saberás fazer. Devolveste-mo para trás e agora falta-me o ar, neste sentimento asmático, sufocante e doloroso. Tu tens medo e eu estou a asfixiar. Só me resta consegui-lo enforcar.
Portanto (variações)
Pormuito: portãopouco: poristo: portudo: pordemais: pormim: porti: pornós: portanto.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
domingo, 15 de junho de 2008
Lux(o)
O terraço do Lux estava como nunca o tivera visto antes. Nem demasiado abarrotado nem demasiado vazio, o suficiente para o vestido comprido estilo hippie dar nas vistas assim que ela entrou.
A pele já acusava uma pincelada de bronze e ela dançava discretamente porque não necessitava de atitudes excêntricas: mesmo quieta, mesmo parada, apenas a sorrir com o seu sorriso aberto ela conseguia reter as atenções masculinas que cirandavam por ali.
Aproximou-se um. E outro. Um terceiro. A todos distribuiu sorrisos. Chegou, até, a dançar com um deles: não o mais bonito mas o mais sensual. Não o sabia explicar: atraiam-lhe os homens naturalmente sensuais, sem músculos, nem bronze de solário, sem gel no cabelo nem ar de pintas. E dançaram colados, em silêncio, num misto de fascínio e mistério, não se chegando a tocar verdadeiramente mas em simultâneo a tocarem-se por inteiro.
Não trocaram nomes, nem números de telefone. Dele só sabia o som da voz:
"A menina dança?"- perguntara-lhe, rouco.
"Dança. Mu dança."- pigarreara ela, sempre a troçar com as palavras e as intenções.
"Então, venha daí, menina Mu"- e pegara-lhe na mão até a um canto da varanda, onde puderam dançar em silêncio naquela dança de chama de vela.
Eram quase sete da manhã quando chegou a casa. O marido dormia profundamente na cama de ambos. Ao fundo da cama, no lado em que ela se costumava deitar, jazia a camisa de noite preta de cetim, a preferida dele, como que um convite que ele pretendia simuladamente casual.
Vestiu-a e deitou-se.
sábado, 14 de junho de 2008
terça-feira, 10 de junho de 2008
terça-feira, 3 de junho de 2008
domingo, 1 de junho de 2008
Quando nasce o dia na cidade
O convite tinha surgido sem que o esperasse:"Podias vir cá a casa dar uns conselhos de decoração hoje...". Ela sentira um frio na barriga, um misto de surpresa e ansiedade: medo.
Vestiu-se para ele da mesma forma como uma hora mais tarde se despiria para ele, em cima do tapete felpudo da salá áurea a contrastar com a sensação pouco clara que ambos viviam. Escorregadia- ela.
"Se não pensares na realidade, a realidade não existe". Não era essa a verdade que ela vivia. Não obstante a ausência de imagens, havia marcas de outra mulher pela casa, passos invisíveis no chão, cheiro nos lençóis, objectos territoriais espalhados como que esquecidos. Embora, em boa verdade, a outra fosse ela.
Havia um tempo interior para ela. Ela esperava que para ele também. E nesse tempo secreto, não partilhado, ela desejava que os relógios se encontrassem não muito longe no tempo, que era cada vez mais curto. Que os relógios segundassem em sintonia no tempo e no espaço dela, no tempo e no espaço dele, no tempo e no espaço dos outros, lá fora. Cá dentro também, mas só nessa altura haveria um dentro comum, interior, de placenta.
Sentaram-se a ver as imagens deles, das suas gentes, das suas histórias que também eram, afinal, a história cruzada das suas gentes. Beijaram-se e ele excitou-se com o beijo dela, molhado e apaixonado pela sensação de suscitar nele o desejo que crescia. "It's a two way road". Indeed.
Frente a frente, na mesa da cozinha ele preparou-lhe cuidadosamente um capilé com lima e ela bebeu-o com o mesmo requinte de quem bebe uma taça de champagne. Com mais prazer do que quem bebe Moet & Chandon. Ele tinha-o preparado para ela, entre confissões de pedaços de passado, tiras de um futuro anunciado, rasgos de um presente pesado. Histórias de risos entre paredes de pedra, danças alegóricas em bailes de província, cheiros de açúcar caramelizado com ferro a cobrir leite-creme. Partilharam, por fim, uma amêndoa amarga, doce de tanta paixão crescente nos olhos amendoados de ambos. Assim acreditava ela.
Sabia que o queria. Queria não o imaginar com outra mulher. Queria-o disponível para ela. Queria mostrar-lhe o seu mundo. Queria-o em exclusividade. Sabia também o que não queria. Não queria envergonhar-se de existir e de gostar de o fazer feliz. Não queria ter medo de se cruzar com os vizinhos no elevador. Não o queria com medo de magoar a outra quando a outra era ela, e comecava a magoar-se. Não queria ser dele em full time e recebê-lo em part-time. As premissas tinham mudado. Era a hora.
Fizeram amor de forma carnal e espiritual, uma comunhão como ela não sentia hà muito. Dele sabia muito pouco, apenas que desejava que o seu tempo viesse ao encontro do dela. E enquanto, em cima dele, engolia o seu corpo másculo, os olhos cairam no nascer do sol sobre o subúrbio cosmopolita da cidade e experimentou uma paz orgásmica, como se isso alguma vez fosse possível.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Livro de receitas
Ele disse-me " Gosto de ti tanto quanto imaginei um dia vir gostar de alguém". E, ainda assim, não me chega.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Titanic
Quando um navio de afunda, por ser duro e pesado, permanece lá no fundo. Com o passar das marés. com o esvaziar dos minutos nas horas, vão-se soltando bocados da embarcação, as partes mais leves, ou menos densas, tanto faz. Quanto mais ínfimos os bocados, quanto mais insignificantes, mais depressa emergem. E no casco que segura toda a estrutura alojam-se rémoras e musgo e algas. E a função inicial adapta-se a uma outra, mais não seja a habitação de peixes e outros animais do fundo do mar.
O fundo do mar é escuro e ainda assim os navios, imponentes, permanecem.
Com os corpos, tal como com as pequenas peças dos navios, sucede o contrário: bate-se no fundo e não resta mais nada senão emergir. Muita vezes, inertes e sem vida, ainda assim se permitem arrastar pelas correntes e pelas marés, pelos animais de maior porte ou pela sorte. E a sua função inicial adapta-se a outra, mais não seja a alimento de peixes e outros animais do fundo do mar.
A superfície do mar tem luz e só por isso os corpos, frágeis, insistem em boiar.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
domingo, 25 de maio de 2008
quarta-feira, 21 de maio de 2008
sábado, 17 de maio de 2008
sexta-feira, 16 de maio de 2008
quinta-feira, 15 de maio de 2008
terça-feira, 13 de maio de 2008
segunda-feira, 12 de maio de 2008
domingo, 11 de maio de 2008
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Não me tomem ponta
Esgueiro-me em pontas de pés e fujo para a ponta do comboio vazio de horas de ponta.
terça-feira, 6 de maio de 2008
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Desabafo
Sou uma pessoa tolerante. Muitos dos meus posts são inspirados em comentários que deixo noutros posts, conversas de MSN ou apenas noites de insónia. Fico lisonjeada que se inspirem nos meus posts, também. É sinal de reconhecimento. Mas que me copiem o layout, o título do blog e posts inteiros, literalmente, e não citem a fonte, deixa-me assim que um bocadinho para o aborrecida. Espero que a menina resolva esta assunto rápido e que até nos possamos tornar amigas. Gosto de discípulas. ;)
domingo, 4 de maio de 2008
sábado, 3 de maio de 2008
sexta-feira, 2 de maio de 2008
quinta-feira, 1 de maio de 2008
terça-feira, 29 de abril de 2008
segunda-feira, 28 de abril de 2008
domingo, 27 de abril de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
sexta-feira, 25 de abril de 2008
quarta-feira, 23 de abril de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
domingo, 20 de abril de 2008
Um primeiro poema
Uma estrada sem alcatrão
Um GPS sem sentido de orientação
Uma rede a baloiçar
Uma serra quase à beira mar
Uma cancela que se tem que abrir
Gargalhadas sempre a explodir
Um chá que se partilha
Um mapa que se palmilha
Um canção que se adultera
Um relógio sem tempo de espera
Um carrocel no lençol
Chuva picada em vez de sol
Demonstrações públicas de carinho
O doce sabor de se fazer caminho
O chão de pedra molhado
Mais que um cigarro fumado
Um espelho a reflectir sedução
Mil orgasmos numa só expressão
O crime num bago de uva
A redenção desta chuva
Um cheiro que se torna familiar
Uma sede infinita de se provar
Passados absolutamente escancarados
Futuros possivelmente projectados
Dar vida a uma cama de dossel
O sabor de um sol de mel
O reconhecimento de um beijo
A redenção do desejo
Cabeças tapadas por mantas
Estas recordações: tantas.
Já não se estar tão sozinho
Partilhar um copo de vinho
Uma casa, uma serra e uma mó
E não deixar um instante de estar
só.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
terça-feira, 15 de abril de 2008
segunda-feira, 14 de abril de 2008
sexta-feira, 11 de abril de 2008
quarta-feira, 9 de abril de 2008
segunda-feira, 7 de abril de 2008
sábado, 5 de abril de 2008
sexta-feira, 4 de abril de 2008
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Indecisão
Entre partir a casca da noz dos teus dedos ou desatar os nós dos teus dedos. Em última análise permitir que nós (os dois) existamos nos teus dedos.
domingo, 30 de março de 2008
terça-feira, 25 de março de 2008
segunda-feira, 24 de março de 2008
"Porque há músicas que encaixam em dias que nem luvas"
"... Somos todos escravos do que precisamos
reduz as necessidades se queres passar bem
que a dependência é uma besta que dá cabo do desejo
a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo."
Jorge Palma
terça-feira, 18 de março de 2008
Cagarro
Digo o teu voo. Sigo as palavras que falam de amor. O primeiro: o único. Voo de cigarro. Fumo de cagarro.
domingo, 16 de março de 2008
Love is a game
Ele decidira que terminara, sem sequer ter começado. Não a queria para nada. Não havia lugar para ela na vida dele: horários trocados, caminhos trocados, ideias trocadas, sentimentos trocados, medos trocados, propósitos trocados, trocas trocadas. Ele sentia-se idiota: afinal, a troca de nada se deixara envolver.
Ela sabia-o seduzir Ela sabia que o sabia seduzir e sabia-o fazê-lo com uma mestria sedutora. Uma ideia a consumia: não se deixar envolver. Quando sentia que alguém lhe ocupava a mente mais tempo que o que se permitia, colocava em pratica a infalível teoria da substituição: "Não há como uma paixão para curar outra".
Ele acreditava no poder redentor (redutor?) da paixão: no calor da envolvência: na possibilidade de procurar o amor pela única razão dele aparecer sem aviso de recepção. Acreditava e enchia os pulmões de ar- como para ganhar fôlego- de cada vez que a beijava.
Ela rejeitava o beijo: aquele beijo. Em bom rigor, o beijo dele era o motivo- mesmo que inconsciente- para ela sentir que não resultaria. Abominava o beijar arejado, como quem sopra um balão. Faltavam ali elementos: língua, saliva, tacto. Isso facilitava, de longe, o não envolvimento."Love is a game"- escrevera-lhe ele na contra-capa de um livro que lhe oferecera. Para ele partilhavam o essencial: o gosto pela leitura do mesmo escritor de eleição. "Asfixia-me"- implorara-lhe um dia, a injectar-lhe um beijo cheio de ar. Ele queria-a: corpo e alma, sem pudor mas com entusisamo refreado (uma espécie de premonição). Sentia orgulho na sua companhia: tentava abraçá-la enquanto esperavam que o semáforo dos peões ficasse verde, abria-lhe a porta cada vez que ela queria passar, punha-lhe a mão em cima dos ombros enquanto caminhavam na calçada.
Ela não cedia ao prazer do sexo, mesmo que ele garantisse verbalmente que podia ser encarado como ocasional e descomprometido. Percebia nos olhos dele a não concordância com as palavras: sempre abominara os malditos românticos.
Ele tentava "cortar-lhe" as jogadas com as cartas mais pequenas do trunfo. Aqueles pequenos gestos que denunciavam o sentir pela alma. Mas fora o corpo que o fizera decidir-se a pôr termo aquela amizade coloridamente desigual e desequilibrada.Ela não se importava. Jogava aquele jogo como quem joga uma partida de krapô. Dois homens: dois baralhos: dois jokers. O trunfo era copas e era ela quem tinha o ás, rei e valete. "Rei morto, rei posto"- pensava a dama.
No fim, sobrava-lhe a ela apenas o ás de copas (essas danadas!). Nada a fazer: ambos perderiam naquele que era o prazer de jogar pelo jogo. Rei de espadas atriradas à terra, gastas de tanto lutar.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Ant(agonias)
Naõ esperes que deixe tudo para viver um grande amor. Sou mais do tipo de deixar um grande amor para viver tudo.
segunda-feira, 10 de março de 2008
sábado, 2 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
domingo, 13 de janeiro de 2008
Narciso
Se não houvesse espelhos, não haveria reflexos. E eu viveria bem, melhor, do que com os espelhos. O espelho torna-se um vícío. Deforma-nos. Faz-nos procurar constentemente uma validação externa. Não sei se me percebes, J. O meu reflexo é obra do espelho. O espelho não precisa para nada do meu reflexo. Percebes a minha pequenez?
sábado, 12 de janeiro de 2008
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Hemisférios humanos
Há apenas dois pólos: o das pessoas que nasceram para amar: e o das que nasceram para ser amadas.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
domingo, 6 de janeiro de 2008
sábado, 5 de janeiro de 2008
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Pró-analepse
Olhar para eles e vermo-nos no futuro, jovens novamente, a comentarem os casais que como nós, no presente, vão a um restaurante de luxo e, silenciosos, falam com a comida e comem com os olhos os outros casais, em redor que, como nós no passado nos projectávamo-nos neste mesmo tempo.
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